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Ser competente é “saber fazer” ou “saber agir”?

  • Foto do escritor: Lucia Cuque
    Lucia Cuque
  • 5 de fev. de 2020
  • 3 min de leitura

Atualizado: 2 de abr. de 2020



Pode parecer estranho, aos mais jovens, mas os métodos de trabalho, em boa parte do século XX, eram lineares. As atividades dos profissionais, por sua vez, fragmentadas e simplificadas. O trabalho e o emprego tinham uma perspectiva para toda a vida. Os gestores preocupavam-se, principalmente, com o desenvolvimento de métodos e a organização do trabalho, visando ao controle do tempo de execução das incumbências.


Na 4IR (Quarta Revolução Industrial), a transformação digital, a internet móvel onipresente e de alta velocidade, nanotecnologia, robótica, machine learning, o processamento de informações, alteraram definitivamente a forma de gerir as empresas; transformaram as tarefas e a natureza do trabalho.


Os profissionais da 4IR precisam ter a capacidade de se adaptar com frequência a novos métodos, à organização e às ferramentas de trabalho. A empregabilidade depende da capacidade interna do indivíduo em construir as competências adequadas para as novas funções que estão surgindo nesse contexto.

Mas o que são competências?


Provavelmente, o conceito mais conhecido de competência é o que a define como um conjunto de conhecimentos, atitudes e habilidades (FERRARI, 2013).


Para Le Boterf (2003), profissional competente é aquele que sabe mobilizar e combinar um conjunto de recursos de sua personalidade (conhecimentos, habilidades, qualidades, experiências, etc.) e do ambiente (dados, redes de especialistas, etc.), e age com equilíbrio na busca de uma solução para o cliente.

Profissional competente não é aquele que “sabe” fazer uma atividade, ou aquele que possui um estoque de capacidades e recursos individuais (conhecimentos, habilidades e atitudes). Competente é aquele profissional que “sabe” agir, mobilizar recursos, tomar decisões, traçar percursos e fazer desvios.

Porque desenvolver as competências nos profissionais?


Do ponto de vista econômico, as competências dos indivíduos são vistas como importantes, porque contribuem para promover a produtividade e a competitividade do mercado; minimizam o desemprego; e criam um ambiente para a inovação, em um mundo dominado pela concorrência global.


No cenário de fluidez e constantes transformações apresentado pela 4IR, uma visão estática de competência, como um depósito de recursos, faz pouco sentido. A empresa, para ser competente, necessita que seus profissionais acionem os seus próprios recursos; identifiquem, demandem e usem os recursos disponíveis no ambiente; e busquem soluções para as situações.


O sucesso do trabalho e das organizações pressupõe que o profissional saiba inovar; não se limite a executar as instruções transmitidas; tenha iniciativa e responsabilidade para ir além do prescrito.

Sejamos práticos: educação corporativa e competências


O conceito escolhido pela organização para competências impacta diretamente na forma como a estrutura de educação corporativa pensa os seus projetos e produtos.


Se a empresa entende competências como um conjunto de recursos, a área de educação corporativa poderá mapear, com a área de negócios, quais são os recursos estratégicos necessários (conhecimentos, atitudes e habilidades); avaliar os gaps de performance; pesquisar ferramentas (games, webinars, LMS, etc.), metodologias (tradicionais ou ativas); desenvolver o conteúdo, e entregar o produto.


Se a empresa compreende competência como a capacidade de o profissional agir por meio da mobilização de recursos variados (internos e externos), decidir, planejar e criar, a estrutura de educação corporativa precisará considerar as análises mencionadas no parágrafo anterior e, prioritariamente, utilizar metodologias experienciais em trilhas flexíveis e personalizadas de aprendizagem. A área necessitará, também, atentar para o mindset da organização, liderança e da própria pessoa.

Referências

EUROPEAN COMMISSION. Proposal for a council recommendation on key competences for lifelong learning, 2018. Disponível em: https://eur-lex.europa.eu/legal-content/EN/TXT/PDF/?uri=CELEX:52018SC0014&from=EM. Acesso em: 04 fev. 2020.


FERRARI, Anusca. DIGCOMP: A framework for developing and understanding digital competence in Europe. 2013.


GONZALEZ VAZQUEZ, Ignacio et al. The changing nature of work and skills in the digital age. Joint Research Centre (Seville site), 2019. Disponível em: https://ec.europa.eu/jrc/en/publication/eur-scientific-and-technical-research-reports/changing-nature-work-and-skills-digital-age. Acesso em: 04 fev. 2020.

LE BOTERF, Guy. Desenvolvendo a competência dos profissionais. Porto Alegre. Artmed, 2003.

 
 
 

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